Educar-(se)
Albert Einstein é a maior prova de superação da dificuldade e da importância da educação
Por: Alexei Amorim
Se no caput do art. 205 da CF/ 88 o
Estado estabelece os objetivos da educação e tambem traz para si e para o
núcleo familiar o poder e a responsabilidade de educar, proibir os métodos
“homeschooling” ou “unschooling” – que consiste na educação em casa, suprindo
ida à escola - de ensino seria uma contrariedade ao principal artigo da
Constituição sobre a educação, que diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho.”
A
problemática é a seguinte: Se os pais discordam ou não acreditam no sistema de
ensino vigente e se as crianças sofrem “bullying” ou não aprendem da forma mais
adequada – ao pé da letra, “aprender por aprender” – o Estado deveria legalizar
a prática do ensino em casa, de forma tal que fosse regulamentado, aperfeiçoado
e adequado a cada criança, a qual aprenderia tudo em seu tempo ao invés de ter
que submeter ao pífio ensino estipulado pelo governo e paradigmas educacionais
que generalizam o desenvolvimento mental de acordo com a idade. Porquanto, com
a educação não pode haver generalizações e cada indivíduo tem o direito-dever,
desde cedo, a se formar como cidadão. Essa formação, portanto, não pode ser
resultado de um processo que abandona as diferenças entre os alunos, nem de um
tratamento que uniformiza-os na ignorância, mas sim algo direcionado, que não só acompanhe
o ritmo da criança, mas que a estimule a aprender não por obrigação e sim por
prazer, pela ansiedade em descobrir e utilizar suas descobertas na vida
prática. É nesse sentido, então, que deve consistir a educação: Um processo adaptativo da disposição natural
da criança em aprender o mundo que a rodeia.
Educar não é sentar uma criança disléxica e mostrar a ela como conjugar
verbos, isso se chama cumprir metas, dando importância alguma se aquilo foi
absorvido ou não. Educar é um processo de reconhecimento individual, que adapta
o mundo ao aluno e não o aluno ao mundo. Essa questão da adaptação ao geral e ao
comum, é justamente o que forma o comodismo e a inação dos indivíduos. As
pessoas simplesmente fazem porque aquilo deve ser feito e não por que aquilo
merece e precisa ser feito.
O déficit na educação brasileira consiste aí, nesse ordenhamento de
pessoas como se elas fossem ovelhas, como se todos os indivíduos se
desenvolvessem de forma cronologicamente linear e independente do auxílio de
outros. Jogar crianças em salas de aula e lhes mostrar pilhas de conteúdos não
é educar, é ensinar. A educação é algo mais elaborado, um procedimento que
potencializa as habilidades e minoriza os déficits de cada, adequando o mundo
ao seu jeito e a tornando construtora ao invés de simples observadora. Já o
ensino é algo mais seco, efêmero – é a trigonometria que o futuro estudante de
Direito aprende na escola -, em que o que importa é o “como” e não o “por que”-
o ensino demonstra os fatos, mas não faz as pessoas compreendê-los. Educação é
o que transforma, o que diferencia.
No Brasil contemporâneo, o ensino, não a educação, é majoritário nas
escolas públicas e privadas, naquelas mais ainda. Foi vendo isso que diversos
pais brasileiros (a Associação de Defesa do Ensino Familiar, nos EUA, estima
que só no Brasil haja cerca de 2.500 famílias) tiraram seus filhos da escola
para educá-los em casa. Segundo um desses pais:
" Tudo passa por eliminar a fragmentação do aprendizado, deixar a potência da criança florescer. Quando o interesse parte dela, ela ganha outro brilho no olhar. A vida passa a ser o currículo."
Fonte: SUPERINTERESSANTE
Mostrando, então, como a educação
doméstica, de fato, pode dar certo. Contudo, a educação escolar em grupo é, de certa forma, a
melhor forma da criança se desenvolver, pois mesmo com os déficits educacionais
existentes em nosso país, na escola é possível conhecer um mundo novo, novas
pessoas, aprender a lidar com diferenças de todos os tipos e a conviver fora da
zona de conforto familiar, conhecendo o mundo como ele é, não como deveria ser.
O ensino em casa cria uma bolha na qual os medos são conhecidos, mas não
enfrentados, como na escola. A diferença entre esses dois métodos consiste
essencialmente na forma como educamos as crianças a encarar o mundo, pois nem
só de conteúdos e conhecimentos somos feitos, mas de vivências e convivências
também, e o ambiente coletivo, juntamente ao inesperado cotidiano, é o melhor
meio para se viver.
Porém, o ambiente escolar é uma terra fértil que pouco se agora, pouco se
cuida e menos ainda se tem o devido valor reconhecido como a solução maior para
o crescimento e formação de cidadãos e desenvolvimento da nação. À vista do
método de ensino alemão, exemplifica-se a união das capacidades individuais com
os três tipos de ensino. Lá, desde o início da vida escolar, cada
aluno tem acompanhamento individual pelo professor durante dois anos, depois
disso, de acordo com seu desempenho e desenvolvimento, ele é dirigido ao tipo de
ensino mais adequado. Foi através desse sistema que alia a terra fértil à boa
semente que o país se reconstruiu do zero no pós-Segunda Guerra Mundial e hoje
é uma das maiores potencias mundial e um dos principais expoentes globais da
educação.
É vendo o exemplo alemão que o Brasil, país minimamente capaz de ter uma infra-estrutura
básica em todo o território – salve as pequenas escolas do interior que são as
mais necessitadas de investimento básico e, por pura falta de compromisso, são
esquecidas e a educação jogada à decadência - de atender às diversas classes
sociais, poderia reorganizar sua matriz de ensino. Por exemplo, o aumento, por via de decreto, do corpo docente bem
treinado e preparado para uma educação mais individualizada e prestativa nas
escolas públicas e privadas do país – isso ao menos nos anos iniciais da
educação – seria uma revolução em longo prazo na educação de base. Tal
revolução se estenderia até a vida adulta dos alunos, tornando-os – e aqui
falamos nas massas do país – cidadãos criativos, de *vida ativa* e pensante.
Em suma, a legalização do “ensino doméstico” seria um paliativo que
confortaria pais insatisfeitos com o ensino na escola e os tornaria – da forma
como a lei se refere em “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família (...)”
– em vetores principais da educação dos
filhos. No entanto, sendo apenas um paliativo, esta medida deverá ser um
estímulo à reelaboração do ensino no país para que se adapte ao método alemão e
à cultura de aprendizado no país.
De fato, nem na teoria a reforma na educação
se assemelha a algo fácil de ser feito, mas a única forma de revolucionar o
ensino – da educação infantil até os níveis superiores - no país é alterando
suas bases. Isso não é algo que, pelo menos do ponto de vista jurídico-legal,
não pode vir da vontade de terceiros e tecnicamente incapazes, mas das várias
esferas de governo e, utopicamente falando, dos núcleos familiares na questão
cultural.
Liberdade: Uma condição
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